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por Nereyda Ah Hoy
Nestes tempos de transformações intensas, não só à nossa volta, mas acima de tudo, a nível do nosso mundo interior, o facto de sentirmo-nos muitas vezes perdidas, desorientadas e desmotivados, é um sinal de que cada vez mais devemos perceber se o caminho que estamos a percorrer é o caminho que devíamos estar a seguir.
De nada vale correr e querer ser perfeita quando, por dentro, morremos um pouco, todos os dias. Há gente viva, que já “morreu” há muito. Muitas vezes queremos ser o que não somos e desempenhar um papel que não nos cabe. E não queremos fazer o mais essencial de tudo: olhar para dentro e conhecermo-nos! De acordo com Shelley Prevost, psicóloga e terapeuta do Lamp Post Group, existem 5 razões essenciais que nos impedem de seguir o nosso propósito na Vida, que partilho abaixo:
O nosso foco de vida está sempre projectado para o exterior
O Ser Humano, desde que nasce é ensinado a procurar fora de Si, tudo o que pensa que precisa para se guiar, orientar e satisfazer na Vida, a todos os níveis. No que diz respeito a encontrar o nosso propósito de Vida, habituamo-nos sempre a ter a aprovação dos outros (família, amigos, etc), como validação de que estamos no caminho certo. Contudo, vezes sem conta, esquecemo-nos de que os outros, por muito bem-intencionados que sejam, dão-nos a sua opinião de acordo com aquilo que constitui a sua própria perspectiva pessoal das coisas, que pode não servir-nos a nós, tão bem quanto serve a eles. Por isso é tão perigoso deixar nas mãos dos outros as nossas decisões e deixar que sejam os outros a decidir que caminho devemos seguir na Vida. Pedir um conselho, é uma coisa. Querer que o outro decida por nós, é outra completamente diferente. Temos sempre de ter em mente, que a nossa opinião é e deve ser sempre a última, após analisarmos tudo o que achamos que temos a analisar.
Recusamo-nos a ouvir o nosso chamado
No que diz respeito a “Viver o Nosso Propósito de Vida”, não ouvir o nosso chamado pode ser uma das piores consequências. Desde muito cedo, os nossos pais e família querem decidir por nós qual a melhor carreira, qual o melhor emprego e qual o melhor estilo de vida que devemos levar. Claro que a intenção é, na maior parte das vezes, a melhor possível, mas temos de desenvolver a capacidade de avaliar individualmente se aquilo faz sentido para nós, mesmo que venha de pessoas queridas. Quando iniciei a minha vida universitária, “optei” inicialmente por fazer o Curso de Direito, porque sempre ouvia do meu pai que Direito “é um Bom Curso, porque os Advogados recebem bem e são bem posicionados na sociedade”. A verdade é que, logo no primeiro ano, comecei a sentir uma angústia interior tão grande e a sentir que não era aquilo definitivamente que eu queria fazer.
Ir para a Universidade passou a ser um martírio e passei a isolar-me cada vez mais dos colegas e das conversas. Quando voltava à casa, tudo o que queria era esquecer o dia e “apagar”! Após 2 anos e meio a tentar “encaixar-me” num mundo que não era o meu, decidi desistir do Curso (mesmo sabendo que iria decepcionar o meu pai) e resolvi ouvir o meu chamado interior e ir para a área de Comunicação, com a qual me identifico totalmente. Terminei o meu curso com sucesso e tenho estado a dar o meu contributo ao mundo através do que aprendi e sinto-me imensamente grata por isso! Uma das melhores formas de sabermos qual a nossa paixão, mesmo a nível profissional, é perguntarmos a nós mesmas: “e se o dinheiro não fosse a minha maior preocupação? O que escolheria fazer?” A resposta que vier à sua mente e a fizer vibrar por dentro, é o caminho que deve tentar seguir.
Não apreciamos a nossa própria companhia
Conheço muitas pessoas que acham a ideia de estar sozinhas completamente alarmante! E justificam-se de várias formas, dizendo que estar sozinhas é angustiante, que não sentem necessidade e não percebem porquê é necessário sequer. O que tento explicar às pessoas, muitas vezes sem sucesso, é que quando estamos connosco mesmas, não estamos sozinhas. Estamos com a pessoa mais importante das nossas Vidas: nós mesmas! E que, as vezes, é necessário sim, estar connosco a sós, ouvir-nos, sentir-nos, pois só assim podemos compreender o porquê de muita coisa que nos acontece e que sentimos. Se estamos constantemente em adrenalina, rodeados por gente, barulho e agitação, a nossa alma também fica agitada, inquieta e não consegue encontrar um equilíbrio. E embora o estado de adrenalina seja viciante, a longo termo, ele desgasta a níveis inimagináveis. Geralmente as pessoas que tem mais necessidade de estar sempre rodeadas de gente, são pessoas que tem mais tendências a entrar em depressão e a sentirem-se desorientadas na Vida. O seu foco está sempre fora, nos outros e nunca tentam encontrar o equilíbrio onde ele se encontra: no interior. Se formos a investigar a vida dos maiores empreendedores do mundo, veremos que grande parte deles passa bastante tempo sozinho, a reflectir, a meditar, ou simplesmente a usufruir da sua própria companhia.
Renegamos o nosso lado Sombra
Uma das coisas mais difíceis para todas nós (sem excepção!) é exactamente aceitar e aprender a conviver com aquele lado nosso que não é tão agradável e que até preferíamos que não existisse – o nosso Lado Sombra! O trabalho de conhecer, aceitar e conviver com a nossa Sombra é geralmente uma consequência do auto-conhecimento, do trabalho profundo sobre si mesma, seja através da terapia, meditação, ou outro tipo de prática. O nosso Lado Sombra é tão valioso quanto o nosso Lado Luz! As maiores lições para que possamos evoluir e superar-nos a nós mesmas, são dadas exactamente pelo nosso Lado Sombra. O nosso lado Luz é bem mais agradável e bem mais fácil de suportar, mas pouco nos desafia e pouco podemos crescer com ele e muitas vezes, é perigoso, pois dá-nos uma ideia errada do que somos, como um todo! A beleza do Ser Humano é exactamente ter coisas boas e as menos boas e o nosso desafio deve ser sempre, reforçar as coisas boas e aprender com as coisas menos boas.
Carl Jung define bem o nosso lado sombra:
“A sombra é o lado da sua personalidade que você não quer que os outros vejam. Representa as suas deficiências, as suas falhas, as suas motivações egoístas. A maioria de nós evita isso antes que qualquer um possa ver. Mas há uma coisa: a parte de você que é a mais escura tem a maior quantidade de coisas para lhe ensinar sobre o seu propósito. Se descobrir que o seu propósito é realmente sobre auto-conhecimento, a sua escuridão mostra-lhe onde você mais precisa de crescer e amadurecer. Mais importante ainda, mostra de quem você mais precisa aprender. É das pessoas que você menos gosta que você tem mais a aprender sobre si mesmo. Mas a maioria ignora o lado sombrio. Em vez disso, busca relacionamentos confortáveis que reforcem as imagens gastas e obsoletas sobre Si mesmo.”
Ignoramos o nosso lado mais intuitivo
De acordo com a Psicologia, o nosso Inconsciente representa coisas das quais muitas de nós foge, toda a vida – emoções, intuição, impulsos e sensibilidade. Uma das grandes lutas internas do Ser Humano tem a ver com a necessidade de ter o controlo sobre tudo à sua volta (ou da maioria das coisas) e estar plenamente consciente de todos os seus passos e não sofrer com fraquezas, nem obstáculos.
Mas a vida não é uma linha recta e nunca teremos controlo sobre tudo, apenas sobre nós mesmas e mesmo para isso, temos de trabalhar bastante e conhecer-nos profundamente! É um processo para toda a vida, mas vale a pena! Aposte no Auto-Conhecimento! Supere-se, vença os seus medos e torne-se na melhor versão de si mesma!
Have you discovered what you have come to do in this world?
by Nereyda Ah Hoy, writer, author and founder of Indika platform and digital magazine
In these times of intense transformation, not only around us, but above all at the level of our inner world, the fact that we often feel lost, disoriented and unmotivated is a sign that we must change. The way we are going is the way we should be following. It's pointless to run and want to be perfect when, inside, we die a little, every day.
There are living people who have to all intents and purposes “died a little inside" long ago. Often we want to be what we are not and play a role that does not fit us. And we do not want to do the most essential of all: look inside and get to really know ourselves. According to Shelley Prevost, Lamp Post Group psychologist and therapist, there are 5 essential reasons that prevent us from following our purpose in life, which I share below:
1. Our focus of life is always projected abroad
The Human Being, from the time he is born, is taught to seek outside of himself, everything he thinks he needs to guide himself, guide and satisfy in life, at all levels. When it comes to finding our purpose for Life, we always get the approval of others (family, friends, etc.) as a validation that we are on the right path. However, over and over, we forget that others, however well-intentioned they are, give us their opinion according to what constitutes their own personal perspective of things, which may not serve us, as well as it serves them. That is why it is so dangerous to leave our decisions in the hands of others and let others decide which path to follow in life. Asking for advice, that's one thing! Wanting others to decide for us, is another completely different matter. We always have to keep in mind that our opinion is and should always be the last one that counts, after analyzing everything we think we have to analyze.
2. We refuse to hear our call
With regard to "Living Our Purpose in Life," not listening to our calling can be one of the worst consequences. From a very early age, our parents and family want to decide for us what the best career is, what the best job is, and what the best lifestyle is that we should lead. Of course their intention is, in most cases, well meaning, but we must develop the ability to individually assess whether that advice makes sense to us, even if it comes from loved ones. When I started my university life, I "opted" initially to take the Law Course, because I always heard from my father that “Law is a good course because lawyers are well received and well positioned in society.” The truth is that, in the first year, I began to feel such an inner anguish and to feel that it was not what I definitely wanted to do. Going to university became a martyrdom, and I began to isolate myself more and more from my colleagues and conversations. When I returned home, all I wanted to do was forget the day and "turn it off!” After two and a half years of trying to "fit" into a world that was not my own, I decided to give up the course (even though I knew it would disappoint my father) and decided to listen to my inner calling and go into a career space which I totally identified with. I successfully completed my course and I have been making my contribution to the world through what I have learned ever since, and I am immensely grateful for it! One of the best ways to know what our passion is, even at a professional level, is to ask ourselves: "What if money was not my biggest concern? What would you choose to do?“ The answer that comes to your mind and makes you excited inside, is the path you should try to follow.
3. We do not enjoy our own company
I know many people who think the idea of being alone is completely alarming! And they justify themselves in various ways, saying that being alone is harrowing, they feel no need to spend time alone, and do not realize why it is even necessary. What I try to explain to people, often without success, is that when we are with ourselves, we are not alone. We are with the most important person in our lives: ourselves! And that, sometimes, it is necessary to be with ourselves alone, to listen to us, to feel us, because only then can we understand the reason for many things that happen to us and the way we feel at times.
If we are constantly in adrenaline mode, surrounded by people, noise and agitation, our soul is also restless and cannot find a balance. And although the adrenaline state is addictive, in the long run, it wears us down to unimaginable levels. Usually people who are most in need of being surrounded by people are those who have more tendencies to go into depression and to feel disoriented in life. Their focus is always on the outside, on others, and they never try to find the balance where it actually is: on the inside. If we are to investigate the lives of the greatest entrepreneurs in the world, we will see that most of them spend much time alone, reflecting, meditating, or simply enjoying their own company.
4. We Renegade Our Shadow Side
One of the most difficult things for all of us (without exception!) is accepting and learning to live with that side of ours that is not so pleasant and that we often preferred did not exist - our Shadow Side! The work of knowing, accepting and living with our Shadow is usually a consequence of self-knowledge, of deep work on oneself, whether through therapy, meditation, or other type of practice. However, our Shadow Side is as valuable as our Light Side! The greatest lessons for us to evolve and surpass ourselves are given exactly by our Shadow Side. Our Light side is much more pleasant and much easier to bear, but little challenges us and we cannot grow with it very often, as a result it is dangerous because it gives us a wrong idea of what we are, as a whole! The beauty of the Human Being is exactly having good and less good things and our challenge should always be to reinforce good things and learn from the less good things.
The philosopher, Carl Jung, well defines our shadow side. He says:
"The shadow is the side of your personality that you do not want others to see. It represents their shortcomings, their failures, their selfish motives. Most of us avoid this before anyone can see. But there is one thing: the part of you that is the darkest has the most things to teach you about your purpose. If you discover that your purpose is really about self-awareness, your darkness shows you where you most need to grow and mature. Most importantly, it shows who you need to learn the most. It's the people you least like that you have more to learn about yourself. But most ignore the dark side. Instead, look for comfortable relationships that reinforce worn-out, obsolete images of Self. "
5. We ignore our most intuitive side
According to Psychology, our Unconscious represents things that many of us run away from, all of life - emotions, intuition, impulses, and sensitivity. One of the great inner struggles of the Human Being has to do with the need to have control over everything around you (or most things) and to be fully aware of all your steps and not to suffer from weaknesses or obstacles.
But life is not a straight line and we will never have control over everything, just ourselves and even in that respect we have to work hard and get to know ourselves deeply! It's a lifelong process, but it's worth it! Bet on Self-Knowledge! Overcome your fears and become the best version of yourself!
A Nereyda Ah-Hoy é uma empreendedora moçambicana e fundadora da Plataforma INDIKA, monitora de Qi-Gong e blogger. Adora inspirar as pessoas a alcançar as melhores versões de si próprias através da autoconsciência. Ela faz isso através dos seus artigos, podcasts e palestras chamadas Sessões INDIKAS. Estas sessões representam o primeiro fórum criado em Maputo, em moçambique, onde são abordados abertamente temas como autoconsciência, amor próprio, relacionamentos e espiritualidade e partilhados entre os participantes num ambiente relaxando e acolhedor. Através da prática do Qi-Gong, a Nereyda contribui para o equilibro e bem-estar das pessoas.
E-mail: nereyda.ahhoy@gmail.com