por Filipa Carreira
O burnout foi identificado nos anos 70 como um problema do local de trabalho. Hoje em dia, sabemos que os fatores que resultam em burnout vão além do fator profissional, incluindo a parentalidade, o cuidado de familiares doentes e o ativismo social. De facto, este problema é gerado por tudo o que exige cuidados e investimento de tempo e energia.
Os três fatores de burnout incluem:
Despersonalização: Isto verifica-se quando se separa emocionalmente do seu trabalho, ou seja, quando se desconecta porque já não o considera relevante.
Diminuição do senso de realização: Quando trabalha cada vez com mais afinco, mas se sente cada vez menos realizada.
Exaustão emocional: Esta é a sensação avassaladora de estar emocionalmente drenada que se acumula com o tempo.
Qualquer pessoa pode experienciar um quadro de burnout. Não se trata de uma doença mental ou um diagnóstico médico que requer anos de terapia, embora geralmente se sobreponha à ansiedade, depressão, raiva reprimida ou raiva. O burnout é uma condição relacionada com a experiência de um stress avassalador e manifesta-se de forma diferente em cada pessoa.
Então, o que pode fazer se sentir que está em burnout ou está prestes sofrer desta condição? Vou dar-lhe uma dica, não passa por autocuidados! Dizer a alguém que está em burnout para relaxar tem o mesmo efeito que gritar a alguém para se acalmar durante uma discussão, apenas instiga mais stress. E o burnout é uma resposta fisiológica ao stress avassalador. Tirar umas férias e desligar-se das suas principais fontes de stress é uma grande ideia, mas nem todas podemos dar-nos a esse luxo. No tempo restante em que não pode simplesmente desligar-se como seria desejado, a resposta parece estar em concluir os seus ciclos de stress e encontrar a sua tribo! Concluir um ciclo de stress é algo parecido com isto:
Passo 1 - Identifica uma ameaça, estes são os seus fatores de stress ou gatilhos, as coisas que causam stress - podem ser os seus filhos, o seu parceiro, o seu trabalho, dinheiro, colegas de trabalho, deslocações...
Passo 2 - Sente o stress como a resposta física do corpo a estes estímulos, a resposta comummente conhecida como “lutar, fugir ou congelar”. O seu corpo começa a bombear adrenalina e cortisol, afetando a sua digestão (esta é a razão pela qual vai à casa de banho para fazer cocó antes de uma apresentação ou de uma reunião importante) e a sua cognição à medida que se torna hiperconcentrada na resolução de um problema específico (razão pela qual tende a levar o seu trabalho para casa e a pensar nessa folha de cálculo enquanto o seu filho lhe fala do seu dia).
Passo 3 – O corpo recebe o sinal de que a ameaça deixou de existir.
O nosso problema é ficarmos presas num ciclo em que identificamos uma ameaça; deixamo-nos afetar por alguém que não nos deixa passar no trânsito, temos uma resposta fisiológica, sentimos raivas e libertamos hormonas. E depois... não processamos o stress de forma a dizer ao corpo para parar de stressar, em vez disso, deixamos acumular o stress até explodirmos ou implodirmos, entrando em burnout.
Uma vez que o stress é, em grande parte, uma resposta física a um estímulo, uma forma de concluirmos o ciclo do stress é movimentarmos o nosso corpo correndo, fazendo uma caminhada, fazendo exercício, e até mesmo o sexo ajuda-nos a sentir a libertação necessária para a mente e o corpo relaxarem. Estas são ferramentas importantes para o alívio momentâneo do stress, contudo o antídoto mais importante para o burnout é o amor e a conexão. Estudos têm demonstrado que as pessoas com relações profundas e significativas são mais resistentes ao burnout. As pessoas que se sentem profundamente amadas e apoiadas, e aquelas que sentem o seu amor retribuído e apoiado. Assim, se vir uma mulher que acabou de ser mãe em dificuldade, parecendo que não mudou de roupa há uma semana, segure no bebé durante 5 minutos para que possa tomar um duche. A sua amiga está a debater-se para cumprir um prazo; envie-lhe alguma refeição já preparada. Diga-lhe que se preocupa com ela e que não está sozinha!
Pode estar a revirar os olhos e a pensar: “Não estou realmente a sentir o amor neste momento. Não vou lá fora em busca de amigos aleatórios. Por onde poderia começar?”. Compreendo bem, já passei por isso. Mas escute-me. Sempre que se sentir presa e isolada, saiba que do outro lado dessa parede está apenas outra pessoa a sentir-se igualmente desesperada e isolada, desejando conectar-se tanto quanto você, portanto, estenda a mão.
E lembre-se, você é uma Leoa de África, este é o nosso orgulho! Somos uma comunidade diversificada onde certamente encontrará mulheres guerreiras com a mesma mentalidade, que como você por vezes se sentem cansadas e sobrecarregadas, por isso estendam a mão umas às outras com o coração aberto e criem conexões profundas. Encontre a sua tribo e nutra-a como se a sua vida dependesse dela. Porque depende! A sua saúde mental, física e espiritual reflete as suas conexões mais próximas e profundas.
A Filipa Carreira é a fundadora da Awkward, uma empresa social de educação sexual em Lisboa, Portugal, que ajuda os pais a iniciar conversas com os seus filhos sobre corpos, sentimentos, relações e sexo. A Awkward tem uma coleção de recursos online, incluindo brochuras e os cursos online “Sex-Ed for Parents” e “Preventing Child Sexual Abuse”. A Filipa facilita consultas individuais e em grupo online, assim como workshops de saúde sexual e reprodutiva presenciais para alunos, professores e pais. Com uma pós-graduação em Educação Sexual e Bem-Estar e experiência de trabalho no ecossistema das start-ups, a Filipa espera salientar a importância da Inteligência Relacional em casa e no local de trabalho.